09 dezembro 2009
01 dezembro 2009
A infanticida Maria Farrar - Bertolt Brecht
sem sinais particulares,
menor de idade, orfã, raquítica,
ao que parece matou um menino
da maneira que se segue,
sentindo-se sem culpa.
Afirma que grávida de dois meses
no porão da casa de uma dona
tentou abortar com duas injeções
dolorosas, diz ela,
mas sem resultado.
E bebeu pimenta em pó
com álcool, mas o efeito
foi apenas de purgante.
Mas vós, por favor, não deveis
vos indignar.
Toda criatura precisa da ajuda dos outros.
Seu ventre inchara, agora a olhos vistos
e ela própria, criança, ainda crescia.
E lhe veio a tal tonteira no meio do ofício das matinas
e suou também de angústia aos pés do altar.
Mas conservou em segredo o estado em que se achava
até que as dores do parto lhe chegaram.
Então, tinha acontecido também a ela,
assim feiosa, cair em tentação.
Mas vós, por favor, não vos indigneis.
Toda criatura precisa da ajuda dos outros.
Naquele dia, disse, logo pela manhã,
ao lavar as escadas sentiu uma pontada
como se fossem alfinetadas na barriga.
Mas ainda consegue ocultar sua moléstia
e o dia inteirinho, estendendo paninhos,
buscava solução.
Depois lhe vem à mente que tem que dar à luz
e logo sente um aperto no coração.
Chegou em casa tarde.
Mas vós, por favor, não vos indigneis.
Toda criatura precisa da ajuda dos outros.
Chamaram-na enquanto ainda dormia.
Tinha caído neve e havia que varrê-la,
às onze terminou. Um dia bem comprido.
Somente à noite pode parir em paz.
E deu à luz, pelo que disse, a um filho
mas ela não era como as outras mães.
Mas vós, por favor, não vos indigneis.
Toda criatura precisa da ajuda dos outros.
Com as últimas forças, ela disse, prosseguindo,
dado que no seu quarto o frio era mortal,
se arrastou até a privada, e ali,
quando não mais se lembra,
pariu como pôde quase ao amanhecer.
Narra que a esta altura estava transtornadíssima,
e meio endurecida e que o garoto, o segurava a custo
pois que nevava dentro da latrina.
Entre o quarto e a privada
o menino prorrompeu em pratos
e isso a perturbou de tal maneira, ela disse,
que se pôs a socá-lo
às cegas, tanto, sem cessar,
até o fim da noite.
E de manhã o escondeu então no lavatório.
Mas vós, por favor, não deveis vos indignar,
toda criatura precisa da ajuda dos outros.
Maria Farrar, nascida em abril,
morta no cárcere de Moissen,
menina-mãe condenada,
quer mostrar a todos o quanto somos frágeis.
Vós que parís em leito confortável
e chamais bendito vosso ventre inchado,
não deveis execrar os fracos e desamparados.
Por obséquio, pois, não vos indigneis.
Toda criatura precisa da ajuda dos outros.
Meninas e mulheres são consideradas criminosas quando tentam evitar que venham ao mundo crianças quase mortas, atiradas ao horror e à miséria. País subnutrido e analfabeto, onde as ricas pagam abortos em clínicas quase seguras. As outras são obrigadas a gestar nosso futuro doloroso. Brasil. Muitas ainda morrem com agulhas enfiadas no ventre. Ainda hoje. Ainda hoje. Quero livres: meu corpo, minha vagina, meu sexo e meu pensar.
14 novembro 2009
23 outubro 2009
siga em frente.
Senão, nem começe!
Isso pode significar
perder namoradas
esposas, família, trabalho...
e talvez a cabeça.
Pode significar ficar sem comer por dias,
Pode significar congelar em um parque,
Pode significar cadeia,
Pode significar caçoadas, desolação...
A desolação é o presente
O resto é uma prova de sua paciência,
do quanto realmente quis fazer
E farei, apesar do menosprezo
E será melhor que qualquer
coisa que possa imaginar.
Se vai tentar,
Vá em frente.
Não há outro sentimento como este
Ficará sozinho com os Deuses
E as noites serão quentes
Levará a vida com um sorriso perfeito
É a única coisa que vale a pena.
Charles Bukowski - Poema recebido de um querido amigo. Saudade dos velhos tempos.
19 outubro 2009
Mas a terra dada, não se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada, não se abre a boca."
Funeral de um Lavrador - Chico Buarque e João Cabral de Melo Neto
18 outubro 2009
- Oi Clarinha, tudo bem?
- Não muito.
- O que houve querida?
- Ah. Acho que perdi duas amigas.
- Nossa! Mas por quê? E quem?
- Ah... Adivinha? A Si ficou puta comigo e, claro, a Tati foi atrás né, tomou as dores como sempre e ficou puta também... Ai que saco isso.
- Tá, mas me conta direito! O que aconteceu? (Curiosa e preocupada.)
- Ah sabe, eu ando tão doida com meu trabalho. Tu sabe né? Minha vida mudou de uma hora pra outra, tô sem tempo até pra respirar! Aí... Acabei esquecendo o aniver da Si. (Envergonhada.) Na verdade, não é que eu tenha esquecido, eu só não fui ao bar na segunda, realmente, não me lembrava que ela tinha marcado, lembrava do aniversário, até mandei uma mensagem pro celular... Putz, que saco isso. O pior é que eu tava ali por perto. Ela nunca vai me perdoar.
- Tá, e ela ficou braba. (Muda de tom, não está surpresa.)
- Sim guria! Furiosa! E eu nem sei o que fazer. É, ela me mandou um e-mail avisando, e o pior é que eu respondi. Isso foi na madrugada de sexta pra sábado, eu cheguei em casa bebaça né amiga, eu apaguei esse e-mail da minha memória!
- Tu respondeu o email e não foi na comemoração. É, a Si deve ter ficado furiosa mesmo... Mas olha, tem mais uma coisinha que tu não sabe. (Suspira, toma fôlego e começa a contar.) Ela marcou duas festas, uma pra ti ir e a outra pro Lúcio ir com a namorada... Tu sabe, ela nunca te perdoou por ter ficado com ele. Então ela fez essas duas festas e tu não apareceu... Certamente ficou furiosa. E... O Lúcio contou que ficou contigo de novo.
- Ah, sério? Ahhh eu não acredito nisso! Eu sabia que tinha alguma coisa errada nessa história. Eu sabia! Por isso então que ela tava tão braba!
- Pois é. O Lúcio não deveria ter contado. Ai esse guri também heim. Puxa.
- Ah. Que merda isso! (Aumenta o tom de voz gradualmente enquanto fala.) Olha, te digo uma coisa: tudo bem, sabe, eu sei que a fulaninha lá é amiguinha dela, mas nossa, o que é isso? Pô, tem que fazer duas festas pra eu não me encontrar com o Lúcio? O que ela pensa que é? Ela acha que eu sou criança agora? Tá achando que pode manipular a vida dos outros? Controlar tudo? (Clarinha tenta se controlar.) Ah... Agora quem tá braba sou eu. Pô, por que então ela não vai lá e conta pra fulaninha? Se ela acha tão errado assim, então que ela conte e eles que se resolvam! Eu não tenho nada a ver com isso! Fiquei com um cara que tem namorada sim, mas e daí? Eu realmente não tenho nada a ver, ele que se resolva com a fulaninha. Essa coisa aí de monogamia... Ah cara, sabe, que gente mais hipócrita. Todo mundo fica afim de outras pessoas, só que alguns reprimem por um tempo, uns mais, outros menos, mas uma hora a coisa explode. Claro cara! O Raul Seixas que dizia "se tu gosta de maçã irá gostar de todas", é, deve ser mais ou menos assim, o sentido é esse! Ai, amiga, desculpa me exaltei um pouco. (Acha graça do que diz.)
- Não, tudo bem. Mas, pois é, ela realmente está braba por tu ter encontrado o Lúcio de novo.
- É, entendi, só posso comer quem ela deixar. (Clarinha se enfurece enquanto a amiga dá gargalhadas ao telefone) Moralidadezinha ridícula. Ah cara, a Si não pode se meter nisso não! Se ela quer fazer alguma coisa, já disse, conta pra fulana! Eles que se resolvam, e se a guria vier tirar satisfações comigo eu me resolvo com ela! Eu assumo as coisas que eu faço ué! Mas triângulos de quatro pontas não existem, então, ela que fique fora disso. Tá, ela vai chegar dizendo pra mim “ah, se fosse contigo tu ia sofrer e isso e aquilo”; pois é querida, eu ia, mas a vida é assim! Acorda amor! Isso acontece toda hora! As pessoas não ficam juntas pra sempre! Ah, eu já traí, já fui traída, mas e daí? A vida continua meu bem! Bola pra frente, ninguém sofre a vida inteira por um amor não correspondido ou que não tenha sido o tal do “ideal de relacionamento”. Isso não existe! Bom, essa mulher da novela das oito sofre! Ai, os maus exemplos problemátcos...reprodução do machismo na TV, eita, isso sim me dói. (As duas riem muito, se divertem. A amiga retoma o ar sério.)
- É, tu sabe que a Si achava que eles eram um casal perfeito... Se espelhava naquele relacionamento, Clarinha...
- Ahh não! Agora eu sou culpada por ela acreditar em contos de fadas? Tenha dó heim. Por favor né, a Si que deixe de ser ingênua. Tá loco...tomá no cu esse tal de "controle".
(Gargalhadas.)
06 outubro 2009
O Amargo Santo da Purificação.
Canção dos Lírios
Eu canto à vida,eu canto a liberdade,
como os lírios crescem
em nossos campos,
livres, selvagens.
Se já não crescem como antes,
existe algo sombrio,
é preciso abrir uma clareira no bosque.
Não me limitarei ao campo da arte...
e não escolherei momento,
tempo e modo,
de exaltar-te,
lírio, flor, canção, fruto,
amor - a liberdade.
Não calarei jamais
e sempre te direi a mais bela,
a mais pura.
Se já não crescem como antes os lírios
em nossos campos,
existe algo sombrio,
é preciso abrir uma clareira no bosque.
Carlos Marighella
21 setembro 2009
Impunidade
Campeões do Mundo
"Onde andam os campeões
guerreiros e ladrões
do mundo
imundo?
Onde estão essas crianças
milagre, esperanças,
iradas
quebradas?
Sem bandeiras, sem canções,
aprenderam as lições
de vida, de morte
de vida e morte."...
Hoje faz um mês que Elton Brum foi assassinado, com um tiro nas costas, pela Brigada Militar.
Faz meses que Yeda continua impune.
Faz séculos que o povo é explorado.
Faz uma eternidade que o povo luta contra injustiças.
Faz tempo que poucos enriquecem com o trabalho de muitos....
Hoje eu estava lendo "Campeões do Mundo" de Dias Gomes, esse diálogo me fez lembrar do episódio ocorrido há um mês atrás, então, transcrevo-o aqui:
Müller - Você não percebe nada...Vocês...se dizem tão politizados e não entendem nem mesmo o momento que estão vivendo. Tudo isso é um resultado de uma decisão tomada em escalões superiores. Não posso fazer nada para mudar, nem acho que deva. É uma situação semelhante à de um território ocupado, onde, teoricamente, toda pessoa é um soldado inimigo em potencial. Nessas circunstâncias, as autoridades encarregadas da segurança nacional têm o direito de usar de violência, quando necessário.
Tânia - E matar?
Müller - Se for preciso.
Tânia - É essa então a filosofia.
Müller - E é uma filosofia baseada nos direitos da legítima defesa, de represália e de necessidade. Desenvolvida pelos maiores juristas do país, sabia?
Tânia - Entendo: vocês acharam uma justificativa moral para a imoralidade.
14 setembro 2009
Uma heroína e um herói.
“BRANCA: Há um mínimo de dignidade que o homem não pode negociar, nem mesmo em troca da liberdade. Nem mesmo em troca do sol.”
“BRANCA: Sabe as coisas que mais me divertem? Ler estórias e acompanhar procissão de formigas. Sério. Tanto nos livros como nas formigas a gente descobre o mundo. Quando eu era menina, conhecia todos os formigueiros do engenho. O capataz botava veneno na boca dos buracos e eu saía de noite, de panela em panela, limpando tudo. Depois ia dormir satisfeita por ter salvo milhares de vidas.”
“ZÉ-DO-BURRO: Nicolau não é um burro como os outros. É um burro com alma de gente. E faz isso por amizade, por dedicação. Eu nunca monto nele, prefiro andar a pé ou a cavalo. Mas de um modo ou de outro, ele vem atrás. Se eu entrar numa casa e me demorar duas horas, duas horas ele espera por mim, plantado na porta. Um burro desses, seu padre, não vale uma promessa?”
Branca Dias de "O Santo Inquérito" e Zé-do-Burro de "O Pagador de Promessas" personagens de Dias Gomes, gente do povo, simples mas que, acima de tudo, acredita e não desiste. Gente que luta defendendo sua verdade. Eles existem, existem sim.
12 setembro 2009
Dias Gomes - O Santo Inquérito
BRANCA - Ajoelhar-me diante de vós? Com ambos os joelhos?
VISITADOR - Sim, com ambos os joelhos.
BRANCA - Perdão, mas não posso fazer isso.
VISITADOR - Por que não?
BRANCA - Porque ninguém deve ajoelhar-se diante de uma criatura humana.
NOTÁRIO - E essa agora! Perdeu a cabeça? Não vê que está diante do visitador do Santo Ofício, representante do inquisidor-mor?
18 agosto 2009
Vicente
Vicente, personagem de Rasto Atrás de Jorge Andrade
11 agosto 2009
- Cara, cara, uau!
E com essa notícia o peito de Luzia se encheu: era amor brotando. Daria amor, amor incondicional ao serzinho que chegaria logo mais. Delícia!
- Vida nova chegando! Oba, oba!
Desligou. Por alguns instantes refletiu: talvez fosse egoísta. Mas, com tranquilidade e um sorriso leve nos lábios foi dormir.
10 agosto 2009
O Ovo
07 agosto 2009
- Oi, voltei.
- Ah, ótimo, trouxe a cerveja? Olha só esse cara aqui, acho que ele andou cheirando demais.
- Hum, tu cheirou cara? Olha, eu tenho desvio de septo, cada vez que eu cheiro eu faço um estrago, tu tem isso também? Algum outro problema?
(O Menino me olhava fixamente)
- Cara, eu sei que ela é linda, mas não te apaixona.
(Menino sorri.)
- Hum, olha só querido, acho melhor tu ir no banheiro e lavar o rosto e as mãos porque desse jeito tu não vai pegar ninguém nessa festa. O que tu acha?
05 agosto 2009
Um pouco de Clarice e o livro dos prazeres
04 agosto 2009
"Declamações entre latas de lixo e a suave soberana luz da mente"
Flagelaram seus torsos noite após noite com sonhos, com drogas, com pesadelos na vigília, álcool e caralhos e intermináveis orgias, incomparáveis ruas cegas sem saída de nuvem tremula e clarão na mente, iluminando completamente o mundo imóvel do Tempo intermediário, porre de vinho nos telhados, cabeça feita do prazer, vibrações de sol e lua e árvore no ronco de crepúsculo de inverno, declamações entre latas de lixo e a suave soberana luz da mente, trêmulos, a boca arrebentada e o despovoado deserto do cérebro esvaziado de qualquer brilho. Batalhão perdido de debatedores platônicos saltando dos gradis das escadas de emergência dos parapeitos das janelas do Empire State da Lua, tagarelando, berrando, vomitando, sussurrando fatos e lembranças e anedotas e viagens visuais e choques nos hospitais e prisões e guerras, intelectos inteiros regurgitados em recordação total com os olhos brilhando por sete dias e noites. Vaguearam famintos e sós procurando jazz ou sexo ou rango, distribuíndo folhetos ininteligíveis, que apagaram cigarros acesos nos seus braços protestando contra o nevoeiro narcótico de tabaco do Capitalismo, que distribuíram panfletos supercomunistas em Union Square, chorando e despindo-se enquanto as sirenes de Los Alamos os afugentavam gemendo mais alto que eles. Morderam policiais no pescoço e berraram de prazer nos carros de presos por não terem cometido outro crime a não ser sua transação pederástica e tóxica, que uivaram de joelhos no Metrô e foram arrancados do telhado sacudindo genitais e manuscritos, que se deixaram foder no rabo por motociclistas santificados e urraram de prazer, que enrabaram e foram enrabados por esses serafins humanos, os marinheiros, carícias de amor atlântico e caribeano, que transaram pela manhã e ao cair da tarde em roseirais, na grama de jardins públicos e cemitérios, espalhando livremente seu sêmem para quem quisesse vir, que soluçaram interminavelmente tentando gargalhar mas acabaram choramingando atrás de um tabique de banho turco onde o anjo loiro e nu veio atravessá-los com sua espada, que perderam seus garotos amados para as três megeras do destino, a megera caolha do dólar heterossexual, a megera caolha que pisca de dentro do ventre e a megera caolha que só sabe ficar plantada sobre sua bunda retalhando os dourados fios intelectuais do tear do artesão, que copularam em êxtase insaciável com uma garrafa de cerveja, uma namorada, um maço de cigarros, uma vela, e caíram da cama e continuaram pelo assoalho e pelo corredor e terminaram desmaiando contra a parede com uma visão da buceta final e acabaram sufocando um derradeiro lampejo de consciência, que adoçaram as trepadas de um milhão de garotas trêmulas ao anoitecer, acordaram de olhos vermelhos no dia seguinte mesmo assim prontos para adoçar trepadas na aurora. Que jogaram seus relógios do telhado fazendo seu lance de aposta pela Eternidade fora do Tempo e despertadores caíram nas suas cabeças por todos os dias da década seguinte, que cortaram seus pulsos sem resultado por três vezes seguidas, desistiram e foram obrigados a abrir lojas de antigüidades onde acharam que estavam ficando velhos e choraram. Cantaram desesperados nas janelas, jogaram-se pela janela do metrô, choraram pela rua afora, dançaram sobre garrafas quebradas de vinho descalços arrebentando nostálgicos discos de jazz europeu dos anos 30 na Alemanha, terminaram o whisky e vomitaram gemendo no toalete sangrento, lamentações nos ouvidos e o sopro de colossais apitos a vapor, que mandaram brasa pelas rodovias do passado viajando pela solidão da vigília de cadeia, que guiaram atravessando o país durante setenta e duas horas para saber se eu tinha tido uma visão ou se você tinha tido uma visão ou se ele tinha tido uma visão para descobrir a Eternidade e finalmente partiram para descobrir o Tempo.
02 agosto 2009
B: Hein?
A: Você é meu companheiro, eu disse
B: O quê?
A: Eu disse que você é meu companheiro.
B: O que é que você quer dizer com isso?
A: Eu quero dizer que você é meu companheiro. Só isso.
B: Tem alguma coisa atrás, eu sinto.
A: Não. Não tem nada. Deixa de ser paranóico.
B: Não é disso que estou falando.
A: Você está falando do quê, então?
B: Estou falando disso que você falou agora.
A: Ah, sei. Que eu sou teu companheiro.
B: Não, não foi assim: que eu sou teu companheiro.
A: Você também sente?
B: O quê?
A: Que você é meu companheiro?
B: Não me confunda. Tem alguma coisa atrás, eu sei.
A: Atrás do companheiro?
B: É.
A: Não.
B: Você não sente?
A: Que você é meu companheiro? Sinto, sim. Claro que eu sinto. E você, não?
B: Não. Não é isso. Não é assim.
A: Você não quer que seja isso assim?
B: Não é que eu não queira: é que não é.
A: Não me confunda, por favor, não me confunda. No começo era claro.
B: Agora não?
A: Agora sim. Você quer?
B: O quê?
A: Ser meu companheiro.
B: Ser teu companheiro?
A: É.
B: Companheiro?
A: Sim.
B: Eu não sei. Por favor não me confunda. No começo era claro. Tem alguma coisa atrás, você não vê?
A: Eu vejo. Eu quero.
B: O quê?
A: Que você seja meu companheiro.
B: Hein?
A: Eu quero que você seja meu companheiro, eu disse.
B: O quê?
A: Eu disse que eu quero que você seja meu companheiro.
B: Você disse?
A: Eu disse?
B: Não, não foi assim: eu disse.
A: O quê?
B: Você é meu companheiro.
A: Hein?
16 julho 2009
13 julho 2009
08 julho 2009
03 julho 2009
02 julho 2009
O ar é aquela coisa que se move em torno da cabeça e se torna mais claro quando você ri.
25 junho 2009
24 junho 2009
ninguém é superior a ninguém
"Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade."
aos revolucionários -
"É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática."
"Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes."
aos educadores -
"Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda".
delícia de viver -
"Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Está é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado."
à toda gente -
"Amar é um ato de coragem."
23 junho 2009
20 junho 2009
Cena da peça "Patética" de João Ribeiro Chaves Neto
17 junho 2009
"a propriedade é o grande valor do direito penal. Basta ver que a pena do furto é maior do que a pena de tortura"
14 junho 2009
Bertolt Brecht
07 junho 2009
Kassandra in process - o desassombro da utopia
05 junho 2009
(silêncio)
— Quer dizer que o que está no céu não existe?
— Não, não é isso. O que eu quero dizer é que aquela cor lá você não vai encontrar numa lata para pintar uma parede.
— Janela.
— O quê?
— É janela que eu quero pintar, não parede. E agora nem adianta mais, já mudou tudo. Cor de céu é coisa que muda depressa demais. Foi ficando tão escuro, você reparou? Quase tudo azul, depois preto. O preto vem vindo devagar do outro lado de onde fica o Japão, toda noite.
(silêncio)
— Está anoitecendo. Vamos embora.
— Não quero ir embora. Eu vou dormir aqui.""
amanhã não sei
não sabemos
03 junho 2009
Riqueza e poder.
Apesar de saberem dos grandes impactos ambientais e sociais que a monocultura e as indústrias de celulose causam, e ainda da manipulação da informação, por parte das empresas, que chega até o povo, os políticos promovem a implementação destas aqui. Sabemos que estas indústrias geram desigualdade social, tendo em vista que prejudicam os pequenos agricultores de terras vizinhas às plantações de eucalipto, ainda, os poucos empregos gerados têm baixa remuneração e as atividades são grande risco físico para os trabalhadores, entre outras incoerências.
Há a necessidade de nos questionarmos sobre o que significa o desenvolvimento. Aparentemente, o desenvolvimento, para o governo atual, é imediatista, e em seu nome, as políticas ambientais sérias são ignoradas. Não levam em conta a destruição do bioma pampa e de sua imensa diversidade e nem a questão de que a produção de papel é poluente e deve ser diminuída. Além disso, no Brasil o consumo de papel é de 40 quilos por habitante enquanto nos Estados Unidos o consumo é de 300 quilos: então, as indústrias utilizam a nossa terra mais fértil, a nossa mão de obra barata, os incentivos fiscais e as manobras de políticos; para tornarem nosso solo infértil e inutulizável por nosso povo, desalojarem os nossos índios e pequenos agricultores acamando com suas culturas, explorarem os cidadãos trabalhadores, esgotarem a nossa àgua a ponto de ter que desviar os nossos rios para fazer hidrelétricas que supram o consumo dos parques industriais eliminando o habitat de diversas espécies de plantas e de animais, poluírem nosso ar; tudo isto para vender o produto aos grandes consumidores no exterior? Sim, 98% do produto extraído das plantações são exportados. Eles exploram o nosso país e a nossa diversidade e nós nem, ao menos, usufruiremos destes produtos? E eu nem quero! O Brasil continua sendo colônia dos países do hemisfério norte, é o quintal do “primeiro mundo”. O que será que passa na cabeça desses políticos? Talvez, pensem em enriquecer, já que o Brasil é um país emergente e, quando chegarmos a ter condições de concorrer economicamente com a China, daí sim distribuiremos a renda. Não seremos ingênuos de acreditar que os políticos pensarão um dia em distribuir renda, sabemos que não. E mesmo que pensassem, a cada ano, estamos perdendo mais de 5% do que a terra consegue repor, estamos num processo de esgotamento, daqui a uns 10 anos vamos precisar de 2 planetas Terra para suprir em recursos naturais tudo que estamos utilizando agora com este consumo exacerbado.
Descaso do governo Yeda com as políticas ambientais.
No governo de Germano Rigoto, a Secretaria do Meio Ambiente (SEMA) , responsável pelas políticas ambientais do RS, através de um grupo de trabalho composto por especialistas da área ambiental, elaborou um Zoneamento Ambiental para Atividade de Silvicultura (ZAS) objetivando o controle da plantação de eucalipto pelas empresas papeleiras no estado. Este foi finalizado na virada de governo de 2006 para 2007; foi aprovado pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA) com a participação de técnicos da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM), Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB-RS), Departamento de Florestas e áreas Protegidas (DEFAP) e uma empresa de consultoria.
Após a posse de Yeda Crusius, no dia 1° de março de 2007, executivos da Stora Enso tiveram uma audiência no Palácio Piratini com a governadora, repetindo roteiro feito pelas outras grandes empresas do setor. Apresentaram seus planos de negócios e reclamaram das restrições impostas pelo plano de zoneamento ambiental para o plantio de silvicultura, elaborado no final de 2006, reclamaram dos entraves ambientais para a execução de seus projetos de expansão de plantio de eucalipto, a governadora afirmou não querer ser responsável pela saída de uma empresa de tamanho porte e que correspondia a grandes investimentos no estado e teria de tomar providências.
Yeda precisava substituir os funcionários responsáveis pelos órgãos ambientais no Estado já que estavam demorando a “resolver o problema”, então, demitiu a secretária do Meio Ambiente, Vera Callegaro, que era bióloga e sua amiga de tempos. Vera Callegaro não discordava da posição desenvolvimentista da governadora, mas, por sua trajetória vinculada ao Meio Ambiente, não descuidava-se em manter o processo legal de conceder as licenças levando em conta todos os passos passando pelas respectivas instâncias, acompanhando os procedimentos técnicos que preservavam o zoneamento amparado por lei. Demitiu também o presidente da FEPAM, Irineu Schneider que é de seu partido, ele fora apontado como responsável pela adoção do zoneamento que não fora concluído “a tempo” e ainda era considerado “restritivo demais” demais pelas empresas. Segundo Paulo Brack, professor da UFRGS , as ONGs ambientalistas fizeram contato com Brasília pedindo a ajuda do IBAMA quanto a saída de Vera Callegaro, mas o Governo Federal orientou que o IBAMA não se envolvesse na questão.
No dia 14 de maio, a governadora anunciou os substitutos. Para a secretaria do Meio Ambiente, foi nomeado o procurador de Justiça Otaviano Brenner, cuja indicação causou uma crise interna no Ministério Público Estadual por haver quem achasse que a participação de um membro do ministério público pudesse influenciar nas decisões do órgão, Brenner defendeu-se: “Buscarei o equilíbrio entre a preservação ambiental e o desenvolvimento econômico que viabiliza a sobrevivência da sociedade. Espero que o trabalho seja facilitado pela colaboração dos servidores”. Para a presidência da FEPAM, foi nomeada a ex-diretora-geral da Secretaria de Segurança Pública, Ana Pellini, que tomou posse com as palavras: “o que me encanta e motiva no governo Yeda é a preocupação com o aprimoramento da gestão nos órgãos públicos estaduais”.
Como primeiras providências quanto à demora da emissão das licenças, foi criado logo de início, um Grupo de Trabalho (GT) para revisar o zoneamento já votado anteriormente. Foram chamados para compor esse grupo representantes da FARSUL (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), da FAMURS (Federação da Associação dos Municípios do RS), da FIERGS (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul), da AGEFLOR (Associação Gaúcha de Empresas Florestais), do SINDMADEIRA (Sindicato da Madeira) e de setores do próprio governo e do legislativo; ficaram de fora desse GT as ONGs ambientalistas, os setores da academia, e foram afastados diversos técnicos responsáveis pelo zoneamento anterior. Ana Pellini foi acusada por diversas irregularidades, ela estaria ameaçando os técnicos da câmara técnica do CONSEMA que não emitissem pareceres a favor das empresas produtoras de celulose no Estado, e afastando os técnicos mais experientes da SEMA, mais de 10 técnicos que estavam envolvidos com o zoneamento, foram retirados do trabalho. Ela também contratou, para este novo zoneamento técnicos da EMATER, que é uma empresa privada.
No início de novembro de 2007 o governo do Estado foi acionado pelo Ministério Público Federal e por um conjunto de ações das ONGs, para que cumprisse as leis, e obtiveram uma liminar que impedia a FEPAM de emitir qualquer tipo de licenciamento ambiental para empreendimentos ligados à silvicultura, o IBAMA passaria a ser responsável por isto. Mas a decisão foi suspensa no final do mês, porque o IBAMA não poderia ser responsabilizado já que “A silvicultura, no RS, sempre foi tratada no âmbito fiscalizatório estadual, inclusive manifestando-se o Ibama, expressamente, pela sua incompetência para licenciar silvicultura”.
A partir daí o zoneamento teve de ser encaminhado novamente para as Câmaras Técnicas do CONSEMA, mas sem data certa para o cumprimento, a direção da FEPAM, então, deu início as discussões do Zoneamento da Silvicultura, as Câmaras Técnicas de Biodiversidade e Florestas, de assuntos Jurídicos e de Agroindústria e Agropecuária tiveram de levar a discussão a fim de colocá-lo em vigor. Muitos parâmetros incluídos inicialmente no ZAS foram questionados, alguns retirados e outros aperfeiçoados, de forma consensual, sendo que os técnicos da FEPAM e da FZB e os ambientalistas, representantes na Câmara Técnica, abriram mão de muitas questões. Houve reunião da Câmara Técnica de Biodiversidade e Política Florestal, do dia 18 de março de 2008, a Presidente da FEPAM, Ana Pellini, que nunca havia participado desta Câmara Técnica, e setores representantes das empresas, alegando estudos insuficientes para a finalização do ZAS, retiraram as principais restrições acordadas anteriormente. Houve votação, quebrando os consensos até então implementados. O resultado foi a modificação de diversos itens, a extinção dos índices de vulnerabilidade e de restrição para as unidades de paisagem e retirada dos limites quanto ao tamanho máximo dos maciços de plantios arbóreos homogêneos e de seus espaçamentos. O argumento da presidente da FEPAM e do grupo gestorinterventor da SEMA era de que qualquer número limitador era prematuro.
O dia 9 de abril de 2008:
Para a aprovação definitiva, o secretário do Meio Ambiente convocou uma reunião extraordinária do CONSEMA a menos de 3 dias de sua realização, esta seria realizada no dia 4 de abril de 2008. Neste dia seriam lidos os relatórios das Câmaras Técnicas, nesta reunião o representante da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN), Flávio Lewgoy, pediu vistas aos documentos e tempo suficiente para dar seu parecer, conforme garantia a Resolução n. 64/2004 do CONSEMA, que disponibilizaria pelo menos 15 dias para a elaboração de seu parecer. O presidente do Conselho concedeu somente 3 dias para a análise completa dos documentos que somavam mais de mil páginas e a elaboração do parecer. Assim, no dia 9 de abril a AGAPAN entrou com um Mandado de Segurança na 5ª Vara da Fazenda Pública da Capital, suspendendo a votação no CONSEMA do Zoneamento Ambiental da Silvicultura que aconteceria naquela tarde. A magistrada da 5ª Vara da Fazenda Pública, a juíza Kétlin Carla Pasa Casagrande entendeu que “a entidade demonstrou a impossibilidade de manifestação sobre a Proposta de zoneamento e Pareceres das Câmaras Técnicas do CONSEMA no prazo concedido, que é mínimo, ante a complexidade e efetiva importância da questão a ser analisada”.
Carlos Brenner de Moraes tentou justificar a urgência do tema e iria tentar derrubar a liminar, logo depois saiu da reunião, deixando a responsabilidade de sua coordenação ao secretário adjunto, Francisco Simões Pires. A liminar foi derrubada na noite do dia 9 de abril, após a saída em bloco das ONGs da reunião. A suspensão da liminar que impedia a votação final do ZAS foi dada pelo desembargador Arminio José Abreu Lima da Rosa, Presidente do TJRS (Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul), no início da noite. O argumento maior a favor da urgência da votação foi o de evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, já que foram apresentados supostos prejuízos imediatos para o Estado, com o possível corte de investimento de mais de 6 bilhões de reais em função da demora da “definição da matéria ambiental”, além de afirmar que a AGAPAN não poderia desconhecer o projeto que fora discutido por eles mesmos, apesar de serem documentos novos que significavam bruscas alterações ocorridas nas duas últimas semanas, tais mudanças não tinham sido discutidas antes no CONSEMA. Foi aprovado então, o zoneamento guiado por Ana Pellini e Otaviano Brenner por 19 votos na noite do dia 9 de abril, depois da saída em bloco dos representantes das ONGs.