02 setembro 2010

- Meu tênis molhou.
- Ah é? O meu ainda não. Me da um beijo.
Quando desci do ônibus ela apertou. Seria bom que a chuva me lavasse disso tudo. - Isso vira câncer. Sabe? Quando te incomoda pra sempre pode virar, minha gineco que disse. Essas coisas vão acumulando. Preciso fumar. - Parei no bar e pedi um maço no balcão, não tinha. Então pedi um para o moço debaixo do toldo. Eu ia puxar um papo sobre a chuva mas ele falou antes - É a televisão. Fumante tem que se sentir culpado. Os fumódromos. As crianças. É a televisão.
Retomei a caminhada. Quando cheguei ao fim da rua me contaram:
- Ele estava aqui agora mesmo. Pagou dois mil, por ti. Sofria com a culpa pelo crime que não cometeu. Então chorou e pagou dois mil.
- Que dia. Eu torci o pé de manhã. Depois a fechadura da porta do meu quarto estragou e eu fiquei horas trancada. Desaparafusei tudo com o cortador de unha e não adiantou, tive que chamar alguém para me passar a chave de fenda pelo buraco e eu arrombei. Que fome... com chulé, vou tirar esse tênis molhado.