15 maio 2009

Janaína

Janaína sobrevivia a cada dia. Não era feliz. Sabia que a felicidade era feita de momentos, um estado de espírito e não um sentimento perene e permanente a ser alcançado; mesmo assim a culpa a consumia tornando seus dias quase insuportáveis. Ia para a faculdade diariamente; sentia-se mal. Pessoas em situação de miséria embaixo das marquises enquanto carros importados paravam nos semáforos com as janelas fechadas depois de avaliar que ultrapassagem em alta velocidade acabaria por matar alguém. Aconselhava amigos, brincava com todas as crianças sempre que podia, conversava com os velhos e afagava os cães, sentia-se útil e percebia uma pontinha de melhora em seu humor, infelizmente não durava mais que alguns minutos. As oportunidades lhe surgiam, dinheiro não lhe faltava, a vida não lhe era ruim. Tinha amigos carinhosos, pais preocupados, mas nada disso importava, pelo contrário, isso não lhe fazia bem. Talvez se sua luta fosse para uma vida melhor para si, estaria satisfeita, mas não, sua luta era para que toda a humanidade tivesse comida à mesa. Utopia? Não, mas haveria muito trabalho pela frente. Decepcionava-se ao ver quanto o homem em sociedade podia ser egoísta, mesmo fazendo sua parte diariamente parecia não ser suficiente e seu coração se partia. Homens pisando em seus companheiros, precisando humilhá-los para se auto-afirmar e alimentar o ego, competição, seres individualistas. Ela não entendia. Então sentia o mundo muito pesado em suas costas - conseguiria carregá-lo? Não seria corrompida, de maneira alguma, lutar contra injustiças era sua condição de vida, jamais se venderia, e isso tornava o fardo cada vez maior. Percebia-se incapaz de mudar o mundo inteiro mas, sentia-se responsável. Então, ao voltar para casa, chorava. Infeliz. Deitava-se em sua cama quente enquanto lembrava daqueles que não tinham como se aquecer. Chorava. Responsável e incapaz realizar seu objetivo. Até quando tentaria? Até o fim. E cansada, dormia.

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