09 dezembro 2009

Um magrão pergunta:
- Sidi! Posso colar um cartaz e pendurar uma cerveja?
- Te liga vagabundo. Larga daqui.

Uma gostosa pergunta:
- Sidi! Posso colar um cartaz e pendurar uma cerveja?
- Claro meu amor, fica à vontade. O que eu não faço por ti heim? (Pisca e dá uma boa olhada na bunda da gostosa.)

Uma moça bonita:
- Oi! Eu posso dar uma olhadinha na festa? Quero ver se uma amiga minha tá aí dentro.
- Claro, fica à vontade gatinha.
(Ela sobe e demora muito tempo para voltar.)

Um cara negro:
- Oi! Eu posso dar uma olhada na festa? Quero ver se um amigo meu tá aí dentro.
- Vai logo magrão, mas é rápido.
(O cara demora um pouco...)
- Ô meu, te liga, aquele negão subiu lá e até agora não voltou. Te liga aqui na portaria que eu lá catá esse negão. arracá esse negão de lá. Tá demorando demais, acha que eu babaca. catá esse vagabundo. Ô negão (Referindo-se ao outro homem que está na portaria, também é negro.) é dez e traço, não dá arrego não heim. Te liga. (O homem negro que está na portaria não diz nada, olha para baixo e senta-se no banquinho enquanto o homem branco levanta e sai para "catar o negão", quando chega na porta o cara negro desce das escadas agradecendo.)
- Ó, valeu mesmo heim! mais!
(O homem branco fica imóvel na porta. Parece envergonhado. Pensa...Não diz nada.)

01 dezembro 2009

A infanticida Maria Farrar - Bertolt Brecht

Maria Farrar, nascida em abril,
sem sinais particulares,
menor de idade, orfã, raquítica,
ao que parece matou um menino
da maneira que se segue,
sentindo-se sem culpa.
Afirma que grávida de dois meses
no porão da casa de uma dona
tentou abortar com duas injeções
dolorosas, diz ela,
mas sem resultado.
E bebeu pimenta em pó
com álcool, mas o efeito
foi apenas de purgante.
Mas vós, por favor, não deveis
vos indignar.
Toda criatura precisa da ajuda dos outros.
Seu ventre inchara, agora a olhos vistos
e ela própria, criança, ainda crescia.
E lhe veio a tal tonteira no meio do ofício das matinas
e suou também de angústia aos pés do altar.
Mas conservou em segredo o estado em que se achava
até que as dores do parto lhe chegaram.
Então, tinha acontecido também a ela,
assim feiosa, cair em tentação.
Mas vós, por favor, não vos indigneis.
Toda criatura precisa da ajuda dos outros.
Naquele dia, disse, logo pela manhã,
ao lavar as escadas sentiu uma pontada
como se fossem alfinetadas na barriga.
Mas ainda consegue ocultar sua moléstia
e o dia inteirinho, estendendo paninhos,
buscava solução.
Depois lhe vem à mente que tem que dar à luz
e logo sente um aperto no coração.
Chegou em casa tarde.
Mas vós, por favor, não vos indigneis.
Toda criatura precisa da ajuda dos outros.
Chamaram-na enquanto ainda dormia.
Tinha caído neve e havia que varrê-la,
às onze terminou. Um dia bem comprido.
Somente à noite pode parir em paz.
E deu à luz, pelo que disse, a um filho
mas ela não era como as outras mães.
Mas vós, por favor, não vos indigneis.
Toda criatura precisa da ajuda dos outros.
Com as últimas forças, ela disse, prosseguindo,
dado que no seu quarto o frio era mortal,
se arrastou até a privada, e ali,
quando não mais se lembra,
pariu como pôde quase ao amanhecer.
Narra que a esta altura estava transtornadíssima,
e meio endurecida e que o garoto, o segurava a custo
pois que nevava dentro da latrina.
Entre o quarto e a privada
o menino prorrompeu em pratos
e isso a perturbou de tal maneira, ela disse,
que se pôs a socá-lo
às cegas, tanto, sem cessar,
até o fim da noite.
E de manhã o escondeu então no lavatório.
Mas vós, por favor, não deveis vos indignar,
toda criatura precisa da ajuda dos outros.
Maria Farrar, nascida em abril,
morta no cárcere de Moissen,
menina-mãe condenada,
quer mostrar a todos o quanto somos frágeis.
Vós que parís em leito confortável
e chamais bendito vosso ventre inchado,
não deveis execrar os fracos e desamparados.
Por obséquio, pois, não vos indigneis.
Toda criatura precisa da ajuda dos outros.
___


Meninas e mulheres são consideradas criminosas quando tentam evitar que venham ao mundo crianças quase mortas, atiradas ao horror e à miséria. País subnutrido e analfabeto, onde as ricas pagam abortos em clínicas quase seguras. As outras são obrigadas a gestar nosso futuro doloroso. Brasil. Muitas ainda morrem com agulhas enfiadas no ventre. Ainda hoje. Ainda hoje. Quero livres: meu corpo, minha vagina, meu sexo e meu pensar.