21 setembro 2009

Impunidade

Campeões do Mundo

"Onde andam os campeões
guerreiros e ladrões
do mundo
imundo?
Onde estão essas crianças
milagre, esperanças,
iradas
quebradas?
Sem bandeiras, sem canções,
aprenderam as lições
de vida, de morte
de vida e morte."

...

Hoje faz um mês que Elton Brum foi assassinado, com um tiro nas costas, pela Brigada Militar.
Faz meses que Yeda continua impune.
Faz séculos que o povo é explorado.
Faz uma eternidade que o povo luta contra injustiças.
Faz tempo que poucos enriquecem com o trabalho de muitos.

...

Hoje eu estava lendo "Campeões do Mundo" de Dias Gomes, esse diálogo me fez lembrar do episódio ocorrido há um mês atrás, então, transcrevo-o aqui:


Müller - Você não percebe nada...Vocês...se dizem tão politizados e não entendem nem mesmo o momento que estão vivendo. Tudo isso é um resultado de uma decisão tomada em escalões superiores. Não posso fazer nada para mudar, nem acho que deva. É uma situação semelhante à de um território ocupado, onde, teoricamente, toda pessoa é um soldado inimigo em potencial. Nessas circunstâncias, as autoridades encarregadas da segurança nacional têm o direito de usar de violência, quando necessário.
Tânia - E matar?
Müller - Se for preciso.
Tânia - É essa então a filosofia.
Müller - E é uma filosofia baseada nos direitos da legítima defesa, de represália e de necessidade. Desenvolvida pelos maiores juristas do país, sabia?
Tânia - Entendo: vocês acharam uma justificativa moral para a imoralidade.
...

14 setembro 2009

Uma heroína e um herói.

“BRANCA: Há um mínimo de dignidade que o homem não pode negociar, nem mesmo em troca da liberdade. Nem mesmo em troca do sol.”

“BRANCA: Sabe as coisas que mais me divertem? Ler estórias e acompanhar procissão de formigas. Sério. Tanto nos livros como nas formigas a gente descobre o mundo. Quando eu era menina, conhecia todos os formigueiros do engenho. O capataz botava veneno na boca dos buracos e eu saía de noite, de panela em panela, limpando tudo. Depois ia dormir satisfeita por ter salvo milhares de vidas.”

“ZÉ-DO-BURRO: Nicolau não é um burro como os outros. É um burro com alma de gente. E faz isso por amizade, por dedicação. Eu nunca monto nele, prefiro andar a pé ou a cavalo. Mas de um modo ou de outro, ele vem atrás. Se eu entrar numa casa e me demorar duas horas, duas horas ele espera por mim, plantado na porta. Um burro desses, seu padre, não vale uma promessa?”

Branca Dias de "O Santo Inquérito" e Zé-do-Burro de "O Pagador de Promessas" personagens de Dias Gomes, gente do povo, simples mas que, acima de tudo, acredita e não desiste. Gente que luta defendendo sua verdade. Eles existem, existem sim.

12 setembro 2009

Dias Gomes - O Santo Inquérito

VISITADOR - Ajoelhe-se.
BRANCA - Ajoelhar-me diante de vós? Com ambos os joelhos?
VISITADOR - Sim, com ambos os joelhos.
BRANCA - Perdão, mas não posso fazer isso.
VISITADOR - Por que não?
BRANCA - Porque ninguém deve ajoelhar-se diante de uma criatura humana.
NOTÁRIO - E essa agora! Perdeu a cabeça? Não vê que está diante do visitador do Santo Ofício, representante do inquisidor-mor?