30 abril 2010

Por estes santos latifúndios.

Um dos atores tira os óculos e se transforma na menina. Soldado entra segurando uma menina pelo braço.

SOLDADO: Veja, Sargento, encontrei essa menina, ela estava junto com os invasores!
SARGENTO: Qual é o seu nome menina? (menina não responde) Perguntei qual o seu nome? (aperta o rosto dela entre os dedos) O gato comeu a sua língua? Quem é o líder de vocês? (silêncio) Você gosta de doces, menina? Eu tenho aqui umas balas, amarelas, verdes...pegue! De abacaxi, para o guri. De melancia, para sua tia. De maçã, para sua irmã. E a amarela, para a cadela. (fica pensativo) Está vendo, menina? Sou um péssimo poeta, não sei nem fazer versos. Tem alguém entre vocês que sabe fazer versos?
MENINA: Meu tio Miguel.
SARGENTO: Ele é o líder? Foi ele que falou para vocês invadirem essas terras? (a menina balança negativamente a cabeça) Então quem é o líder?
MENINA: Eu sei quem é o líder, Senhor.
SARGENTO: Menina obediente. Quem é então?
MENINA: A fome, a doença e a ignorância. Eles são os líderes, Senhor.
SAREGENTO: Escuta aqui, menina! Vou dizer uma vez só, sabe aquele homenzinho que te trouxe aqui? Ele é um homem muito cruel. Não deveria dizer isso, é meu companheiro! Rezem a Deus para que eu consiga acalmar ele, ele quer acabar com tudo isso na bala, mas eu não vou deixar. Sou um homem bom. Agora vá! Diga à sua gente que colaborem comigo. Só me digam quem são os líderes e acaba o assunto. Entendeu? Tome! Pegue mais doces.
MENINA: Não quero doces, Senhor. Obrigada!
SARGENTO: Então some daqui, menina! (a menina mostra a língua por trás das costas do Sargento e sai)


- Pequeno trecho do texto escolhido para o exercício cênico inspirado na peça "Por estes santos latifúndios" de Guilhermo Maldonado Pérez, premiado pela Casa das Américas de Cuba em 1975.