23 outubro 2009

Se vai tentar
siga em frente.

Senão, nem começe!
Isso pode significar
perder namoradas
esposas, família, trabalho...
e talvez a cabeça.

Pode significar ficar sem comer por dias,
Pode significar congelar em um parque,
Pode significar cadeia,
Pode significar caçoadas, desolação...

A desolação é o presente
O resto é uma prova de sua paciência,
do quanto realmente quis fazer
E farei, apesar do menosprezo
E será melhor que qualquer
coisa que possa imaginar.

Se vai tentar,
Vá em frente.
Não há outro sentimento como este
Ficará sozinho com os Deuses
E as noites serão quentes
Levará a vida com um sorriso perfeito
É a única coisa que vale a pena.

Charles Bukowski - Poema recebido de um querido amigo. Saudade dos velhos tempos.

"A Liberdade do outro amplia a minha." - Bakunin

19 outubro 2009

"É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada, não se abre a boca."

Funeral de um Lavrador - Chico Buarque e João Cabral de Melo Neto

18 outubro 2009

- Alô?
- Oi Clarinha, tudo bem?
- Não muito.
- O que houve querida?
- Ah. Acho que perdi duas amigas.
- Nossa! Mas por quê? E quem?
- Ah... Adivinha? A Si ficou puta comigo e, claro, a Tati foi atrás né, tomou as dores como sempre e ficou puta também... Ai que saco isso.
- Tá, mas me conta direito! O que aconteceu? (Curiosa e preocupada.)
- Ah sabe, eu ando tão doida com meu trabalho. Tu sabe né? Minha vida mudou de uma hora pra outra, tô sem tempo até pra respirar! Aí... Acabei esquecendo o aniver da Si. (Envergonhada.) Na verdade, não é que eu tenha esquecido, eu só não fui ao bar na segunda, realmente, não me lembrava que ela tinha marcado, lembrava do aniversário, até mandei uma mensagem pro celular... Putz, que saco isso. O pior é que eu tava ali por perto. Ela nunca vai me perdoar.
- Tá, e ela ficou braba. (Muda de tom, não está surpresa.)
- Sim guria! Furiosa! E eu nem sei o que fazer. É, ela me mandou um e-mail avisando, e o pior é que eu respondi. Isso foi na madrugada de sexta pra sábado, eu cheguei em casa bebaça né amiga, eu apaguei esse e-mail da minha memória!
- Tu respondeu o email e não foi na comemoração. É, a Si deve ter ficado furiosa mesmo... Mas olha, tem mais uma coisinha que tu não sabe. (Suspira, toma fôlego e começa a contar.) Ela marcou duas festas, uma pra ti ir e a outra pro Lúcio ir com a namorada... Tu sabe, ela nunca te perdoou por ter ficado com ele. Então ela fez essas duas festas e tu não apareceu... Certamente ficou furiosa. E... O Lúcio contou que ficou contigo de novo.
- Ah, sério? Ahhh eu não acredito nisso! Eu sabia que tinha alguma coisa errada nessa história. Eu sabia! Por isso então que ela tava tão braba!
- Pois é. O Lúcio não deveria ter contado. Ai esse guri também heim. Puxa.
- Ah. Que merda isso! (Aumenta o tom de voz gradualmente enquanto fala.) Olha, te digo uma coisa: tudo bem, sabe, eu sei que a fulaninha lá é amiguinha dela, mas nossa, o que é isso? Pô, tem que fazer duas festas pra eu não me encontrar com o Lúcio? O que ela pensa que é? Ela acha que eu sou criança agora? Tá achando que pode manipular a vida dos outros? Controlar tudo? (Clarinha tenta se controlar.) Ah... Agora quem tá braba sou eu. Pô, por que então ela não vai lá e conta pra fulaninha? Se ela acha tão errado assim, então que ela conte e eles que se resolvam! Eu não tenho nada a ver com isso! Fiquei com um cara que tem namorada sim, mas e daí? Eu realmente não tenho nada a ver, ele que se resolva com a fulaninha. Essa coisa aí de monogamia... Ah cara, sabe, que gente mais hipócrita. Todo mundo fica afim de outras pessoas, só que alguns reprimem por um tempo, uns mais, outros menos, mas uma hora a coisa explode. Claro cara! O Raul Seixas que dizia "se tu gosta de maçã irá gostar de todas", é, deve ser mais ou menos assim, o sentido é esse! Ai, amiga, desculpa me exaltei um pouco. (Acha graça do que diz.)
- Não, tudo bem. Mas, pois é, ela realmente está braba por tu ter encontrado o Lúcio de novo.
- É, entendi, só posso comer quem ela deixar. (Clarinha se enfurece enquanto a amiga dá gargalhadas ao telefone) Moralidadezinha ridícula. Ah cara, a Si não pode se meter nisso não! Se ela quer fazer alguma coisa, já disse, conta pra fulana! Eles que se resolvam, e se a guria vier tirar satisfações comigo eu me resolvo com ela! Eu assumo as coisas que eu faço ué! Mas triângulos de quatro pontas não existem, então, ela que fique fora disso. Tá, ela vai chegar dizendo pra mim “ah, se fosse contigo tu ia sofrer e isso e aquilo”; pois é querida, eu ia, mas a vida é assim! Acorda amor! Isso acontece toda hora! As pessoas não ficam juntas pra sempre! Ah, eu já traí, já fui traída, mas e daí? A vida continua meu bem! Bola pra frente, ninguém sofre a vida inteira por um amor não correspondido ou que não tenha sido o tal do “ideal de relacionamento”. Isso não existe! Bom, essa mulher da novela das oito sofre! Ai, os maus exemplos problemátcos...reprodução do machismo na TV, eita, isso sim me dói. (As duas riem muito, se divertem. A amiga retoma o ar sério.)
- É, tu sabe que a Si achava que eles eram um casal perfeito... Se espelhava naquele relacionamento, Clarinha...
- Ahh não! Agora eu sou culpada por ela acreditar em contos de fadas? Tenha dó heim. Por favor né, a Si que deixe de ser ingênua. Tá loco...tomá no cu esse tal de "controle".
(Gargalhadas.)

06 outubro 2009

O Amargo Santo da Purificação.

Canção dos Lírios

Eu canto à vida,
eu canto a liberdade,
como os lírios crescem
em nossos campos,
livres, selvagens.
Se já não crescem como antes,
existe algo sombrio,
é preciso abrir uma clareira no bosque.
Não me limitarei ao campo da arte...
e não escolherei momento,
tempo e modo,
de exaltar-te,
lírio, flor, canção, fruto,
amor - a liberdade.
Não calarei jamais
e sempre te direi a mais bela,
a mais pura.
Se já não crescem como antes os lírios
em nossos campos,
existe algo sombrio,
é preciso abrir uma clareira no bosque.

Carlos Marighella